segunda-feira, 8 de junho de 2009

ilhada III

Vejo-nos como dois seres descalços buscando alguma cor neste cerco de reflexos metálicos. Talvez este seja o cotidiano, talvez seja o que nunca existiu.
Há uma pequena aura infantil, como se soubesse demais, sendo humana o suficiente, para chorar todas as noites em desolação.
Uma imagem perdida entre tantas outras, translúcidas em formas descontínuas. Aqui, o tempo é medido em emoção, laceração e prova.
Restou a essência queimando como um círio sombrio e amarelado, até as luzes voltarem e o musgo tornar-se uma outra vida, menos rastejante.
E tudo isso é um transe, compreende, fumamos silenciosos, nos olhando sem pensar, no vazio completo transcendendo entre nós. O meu e o teu amor, estão nus. Tua pele respira e te assopro distante, pro meu ar não viciar nesta dor hednica que se sente antes da ardência insuportável.
Sei que depois deste corredor devasso, já vou te encontrar e segurar tuas mãos pequenas. Ecoarão sinos de resignação e uma paz final, um blues triste e aflito, como gostamos um silêncio, um vento frio afagando nosso abraço quase penetrante e amortecendo o terrível medo de não pode sentir o teu pescoço curto, tuas costas estreitas. Os teus pelos, teu fluido, teu sentir e o que mais houver me pertencem, teus cabelos, teu abismo e teu sexo.
E o teu “ser” cósmico, teu a tudo querer, todos os olhos abertos, simultâneos, teu verbo confuso, cuspido, desnorteado e vivo. E meu.

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