domingo, 20 de setembro de 2009

ensaio I

Felicidade, coisa pequena e essencial. Mas não a busco. Não a quero por perto. Talvez dor, ou amor. Amor visceral, como um constante defloramento. Eu sou a primavera e você, a cerejeira. Felicidade, quando distante e intangível, ainda o é? Não é dor? E qual o sentido das coisas quando se sabe da felicidade e não se possui nada, além de cotidiano e rostos muitos rostos longínquos em seus mundos herméticos? Acordar, levantar, comer, lavar-se... (?) Então este é o nome da minha felicidade, ‘sortilégios da ausência’. Mas não é. Felicidade é leviana quando coexiste somente consigo mesma. Como se sorrisse diante dum espelho e este sorriso não lhe pertencesse. A felicidade é uma ilha. O amor é uma ilha. A tristeza é uma ilha, ainda que grande, porque esconde diamantes, isso eu sei, diamantes azuis e amarelos, riquíssimos e opulentos. São as cores da felicidade escondidas sob uma ilha na treva, o tampo pesado e lodoso das eras pendendo sobre mim, sobre minhas ilhas. Diga-me como se faz? Agora, sem felicidade, sem a dor e o amor e entranhas, somente como equilibrar-me sobre duas hastes finas e tenras? São somente pernas, meu Deus, para todo esse imenso oceano, ocultando oceanos, e. Um grande rio imundo é o homem. Não, agora não se pode mais dizer homem, é ser humano, um triângulo, unicamente. Indivíduo permanecendo sujo e febril. Não componho o grande vórtice dos oceanos macilentos das minhas lágrimas. Para chorar, necessitam lágrimas? Sou a fria água que vai lavar sorridente, as ruas do teu desvario. Mas a água fria adstringe não que seja indolor, porque sei que a fervura arranca a pele em bolhas. Então, como aquecer? Ainda são somente pernas, pernas sobre ilhas, ilhas obliteradas, raríssimas, pernas sobre mundos, pernas que carregam mundos, pernas multiplicantes que sustentam a decadência de um corpo iminente ao arrastamento perpétuo. Que fogem da fome, que se ajoelham perante o infinito em abnegação. Não, não quero lutar contra a desgraça alheia, apesar de tentar. Não rima e eu não remo em águas desconhecidas, às vezes afundo às vezes me afogo e flutuo libérrima, sobre outros corpos cintilantes num sonho distante e transfiguratório-não-realista. Sinto muito. Mas às vezes, não resisto.

Não posso. Isto me é impossível.