terça-feira, 9 de junho de 2009

como um veneno lento

E então a noite acabou. Domingos não deveriam existir, nem momentos, nem estes olhos cadentes como estrelas sem brilho.
É quando a treva resplandece em discórdia e recai sobre os olhos, agora, fundos como oceanos já sem vida.
Treva fugidia como amor distante, treva por si só amante dos que desvanecem em solidão. Novamente há uma espera dentro dum buraco. Talvez a chuva caia, inunda meus pés e flutue; sarjetas tateando meu corpo largado já sem dor. Cristo!
Nem uma luz pequenina iluminando o indecifrável, nem uma palavra que possa me servir de norte, uma ternura longínqua, uma migalha...
Olhos, agora, de resignação. Ajoelho-me e rogo um terço de compaixão? (...) Devo sovar-me. Qual é o sentido de tudo se não a vagueza, a morbidez.
Domingos são como a morte de uma semana inteira em devoção. Que entrega é essa a absolutamente coisa nenhuma que sorrisos, que sonhos, que excentricidade em querer tanto ser o inverso do que irrefutavelmente se é. Deus, porque essa vergonha, essa imundície em escala humana, porque essa voracidade pela dor e agora essa rejeição, como se em minha pele houvessem feridas que um medicamento só faz dilacerar... Olhos vazios.
Onde está o motivo, onde está você, mulher (...) Sinto-me um bueiro soterrado sob areia fina e branca. Tenho medo de ventos novos, fortes, medo das rajadas que a utopia de se querer uma felicidade pode trazer; pode mostrar a minha viva carne decompositora e enfim, morrer sem remissão.
Tudo o que disser agora, serão memórias. Optei por não viver e a vida continua garfando minhas saídas redundantes e covardes.
Você entende que eu só queria amar? Que queria ser a brusca mulher que inspirou as poesias e que de fato as merecia? Mas não desejaria o cais de um domingo negro em penitência, não desejaria esta dor quieta que, paralisa aos poucos meu corpo, como um lento veneno.

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