quinta-feira, 4 de junho de 2009

pequenez

Escureceu um dia e temi que minha lucidez retornasse. Já não sabia se em mim havia algum método, aludi-me com realismo (?), mas sabia que tudo era anseio, escapismo de um peito culpado, uma pele virgem, uns olhos cegos. (...)
Silenciosamente levantou-se do chão e mirou-me de pé. Aproximou-se com passos curtos, sem cálculos – não me trazia nada além de olhos atrevidamente puxados, temerosos para abocanhar carne tão fresca. Fez-me gesto para afastar – naqueles olhos rasgados havia um mantra, uma macumba, como se somente os existisse com braços, tronco e pernas - naqueles olhos.
Afastei como um impulso que antecede uma foda, triunfante, extática, com – agora enormes, amendoados de intensidade castanha - estúpida-voráz – meus olhos em toda parte, gelatina branca e veias vermelhas como fogo queimando toda a memória anterior àquele hedonismo acéfalo – hesitante - paradise isn’t lost – is here.
Ergueu a perna direita, sorveu meu corpo gélido, sedento, sabia que eu a amava, amava como unidade, como uma doença terminal-tortura-redenção-metástase e morte. Intercalaram-se pernas, enormes, vadias intrincadas a outras tuas, pernas de mulher pequena, irritávelmente minúscula. Movimentava-se em intervalos metódicos, queria me cravar os dentes, comer minha sombra e luz, vomitar a si mesma dentro de mim, unidas pela carne, pela dor, pelo sexo urgente e ausência posterior já sentida, já prevista e consumada.
Vi a porta aberta, vulgar e desinteressada como eu, ali, cor-de-gelo, mórbida, imersa em cores, difusões e seios, quatro seios pontudos, rijos explodindo em silêncio e entrega.
Não sabia qual boca sugava nervosamente meu pescoço e artérias, lambendo minha orelha, meu pudor, minha sanidade; porra nenhuma de “pensamentos transcendentais”, aquela mulher pequenina domou Orion somente por tirar-lhe a camiseta, somente.
Pediu-me silêncio, seu corpo tórrido colado ao meu, olhou-me inerte, absorveu meus fluídos jactantes de gozo e dedos na calcinha. Queria que me beijasse com força, pelo amor de Deus me machuque com sangue empapando os lábios firmes, tépidos, desesperados, furiosa, me arranhe, rasgue toda a roupa, toda minha pele, me enfie três dedos de primeira para doer fundo e eu querer lhe decalcar em mim, lavar-lhe de saliva, cheiro de mulher vã em braços perniciosos, suor & hormônio (...).
Teu corpo morreu sobre o meu, teu anseio miserável, comedida, açoitou a noite que se descosturou, assim, do dia; ainda carrego-lhe pútrida, disforme; sozinha rastejando por mais um beijo frio ou um olhar turvo.
Mostrou-me o caminho da redenção, acabrunhada, suja, pagã e puta. Você desliza casta com passinhos amarrados e olhos espremidos, sempre arisca, sempre em fuga; talvez tenha tomado forma a tua covardia imbecil, molho de treva que me untou quando jazi naquela cama sem pensar, sem ponderar se algo poderia me fazer retornar à vida sem as seqüelas de um refluxo. Creio que não há. Você não há. Está aqui a tua carcaça fétida, o teu vazamento póstumo, a tua menstruação marrom, a tua pele amarelo-esverdeada e tua pequenez cretina.

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