terça-feira, 9 de junho de 2009

decomposição humana

Há dias que dá aquela vontade daquele não sei o que. O corpo seca, esmiuçando-se, resignado aos abutres másculos, vorazes, febris. A mente descrente, jorra desatinos e desencontros vazios, inerte perante a mobilidade incessante do tempo, das caras, das opiniões. Retrocedem-se os anos, perde-se a malícia, afoga-se em si. É uma sede que mil sorrisos são gota d’água num deserto. É sede que seca os vasos sanguíneos e onde mais houver líquido vital. Petrificam-se os olhos, o ar é nocivo. As pessoas são bonecos, as próprias palavras são acidificadas no fel amargo da vertente subumana que resta.
Isto deve ser algo recente. Algum fator evolutivo da espécie que não acompanhei, algo como fluídos vitais industrializados, caros como a felicidade. Ou talvez não seja sede, oh sim, é erupção faraônica que eclode, lentamente, dentro do corpo em algum lugar que não dói, algo como ansiedade, expectativas sobre um fantasma visto, nalgum daqueles contos de fadas que aludem à vida real; nossa obscura opção de renunciar a tenra tepidez da infância, para nos atirarmos voluntariamente à decomposição contínua dos croquis humanos, futuramente denominados “adultos”.
Anseio por um amanhã pouco mais elucidado, mais convivível, que possibilite ao menos um segundo de paz. É isto. Não é saudade, não é fome, nem dor, nem ferida. É a urgência do querer pelo que virá.

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