segunda-feira, 8 de junho de 2009

durma, vizinho

Pigarreei e disse: Nossa harmonia é perdição. Tua escuridão é a minha luz e a tua debilidade é meu abrigo. Somos uma mente invertida. Desbocamos o existir e nos perdemos dentro dele. Não me solte se me quiser ver inteira.

Venha dormir comigo, vizinho. Você é o pai e eu tua filha, ou o bispo e a concubina. Ou somos limpos ou imundos. Não podemos simplesmente trocar as máscaras? Nada vai mudar, ainda não presto e você fichou o inferno. Irmão e irmã, que seja puro, não visceral, mas durma comigo burguês, durma de meia, abrace-me sem maldade, fique mole como uma bixa que talvez seja, mas não me perfure. Somente dê-me tua mão quente na noite fria e selvagem, escuridão e medo. Você me protege? Pode me olhar enquanto me banho, deixe-me vendar os olhos para ainda lhe ter como um bom rapaz. Mas me proteja vizinho pereça, mas que seja ao meu lado, somente hoje e na voz da solidão, seus berros e remos da noite adiantando a marcha na melancolia bela e profunda dos oceanos estrelados azul-negro. Afunde em mim, lhe salvarei pela mesma mão quente em júbilo, mortos juntos afogados em nós mesmos. Perdoe-me. Preciso da tua mão, braços e calor. Orelhas abrigadas sob respiração de homem tenso. Proteja-me, vizinho.

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