sábado, 22 de setembro de 2012

O estado

Não me sinto bem, eu digo.
Não me sinto.
Não sinto o sentir alheio que diz tocar-me tanto. Impossível!
O externo nunca antes me pareceu tão pouco semelhante ao de outrora, quando ainda percebido.
Isto é grave, não me sinto! Compreendes, bem? Acolhe-me, pois não sou.
Trata-se de um humano que está deixando o próprio corpo, ambulante.
Venho vivendo as paredes, os degraus, a lama, tudo tão íntimo a me refugiar na parda ilusão da autossuficiência humana.
Tudo como se distante. O deslocamento.

A fratura interna, a febre da verdade, a doença louca do humano em pensar, em crer ser-se.
Não, isto não é possível; quede a mobilidade fluida daquele fio de alegria que une os corpos transeuntes, tão oníricos e contentos - disto conheço muito pouco. Conhecemos, porque habilitamo-nos à febre terçã imperdoável do pré-concebido, assimilado, personalíssimo. E, após, a morte.

Não há mais como engolir pisar repisar, urge uma percepção compartilhada!
Urge o puro.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As coisas intimas vão muito além das coisas físicas, estão muito adstritas fora de mim; as capto numa tentativa louca de me preencher e me sentir viva com as varias vidas por dentro (talvez este seja um ato de gente desabitada).

Seja como for, isto me causa prazer.
O mundo interno quando prolongado para dentro de outro corpo - imo derrelido, já não mais habito a morada que outrora encobria-me.
De tanto captar, tornei-me(te).

terça-feira, 3 de julho de 2012

animico em Munch.

E em tanto pensar materializou-se no humano...









"Tudo isso que é bem capaz de confundir o espírito de um homem - nada disso tem importância quando tu chegas" V.M

Ao infinito negro em ti

A vida que não sinto pulula em meus olhos,
Eviscerando a lembrança.
Faz-me o não ser absoluto, sentindo vorazmente o (teu) ser
alheio
Repleto de presciência nula. Você fora o agora de sempre
antes...
E assim continuo a perseguir o espectro da treva,
Personificado em um rosto de olhos turvos
Desviados a buscar-me.
Saiba,
Meu corpo está inundado de amor.
Percebes, estou a morrer,
Retendo-me, sã, no limiar no abismo
Ou a condição de não enferma esteja no cair
E eu esteja caindo sem perceber a volição da terra
Em propelir-me ao infinito negro em ti.

II

Não à massa física que se materializa ao meu lado todos os
dias. Não à figura subjetiva criada pela sociedade e travestida de humano. Não
à crença engessada no amor ensinado jamais sentido. Não a tudo que contradiga
os pequenos momentos azuis. Mas a cor a banhar-me os pensamentos foi amarela.
Amarelo.
Dispondo espectros coloridos aos momentos, podemos
enxerga-los menos coisas externas, mais resultados de sentimentos. Mais
personificações da angústia combinada ao desejo ruminado ao ponto de se tornar
um ente imaterial, palpável. A falta de lógica desta ultima frase fala por si.
Pois embora sensível ao toque, o que se sente é a alma e não a pele. É o
prolongamento do espírito deixando viva a carne.
Reservamo-nos como fruta fresca à espera da melhor oferta...
O infinito distendido abriga os teus olhos, e tua boca é amora madura rasgada em sangue
Róseo em mimetismos da pele íntima...
Tua presença escorrendo é o oceano turvo a mergulhar
E ter-te próximo é remontar o desencontro perpétuo que nos
tornamos.
Ainda que pudéssemos vencer as épocas, jamais o meu corpo já
aviltado
Sustentaria a ti tão imenso espírito emoldurado onde mete-me
em calor.

Estou a jogar morta.

sábado, 17 de dezembro de 2011

É comum a própria dor doer muito mais do que todas as outras. Talvez porque esteja dentro, talvez pela possibilidade de tocá-la tantas vezes, inclusive quando não-quiser. Ou querer apalpar a dor e remexê-la e ferver em seu caldo pardo hiante.

Sei que tudo isto acontece por não saber-me.

Sinto muito, hoje quero fugir do que fui quando não vivia eu mesma. Não que não me lembre da felicidade, sou feliz. Porém também sou triste, sem fim.
Não pretendo olhar mais em teus olhos. Eles restaram longínquos, inermes, sem vida. Eram de um verde oliva intenso, oblíquos, porém grandes ao ponto de manterem-se soberanos. Se lembrares dos meus olhos como amêndoas opacas que eram, a mim já basta; posteriormente observaria a enchente de aguas turvas, sem cor, que se tornaram hoje.
Ainda agora lancinantes, as ultimas palavras ressoam engessadas em cólera e distância. Meu nome, hoje, é Silêncio.

Silêncio foi alguém que hoje é sem ser.