quinta-feira, 4 de junho de 2009

I

É coisa da solidão, este anseio pelo que virá, medo de acordar e não conseguir mais controlar o vazio na boca do estômago que se acende logo após o primeiro suspiro senil. Ele se estende oscilando ao decorrer dos dias, até que passem anos e eu tentarei ludibriar as minhas noites até desaparecer a primeira estrela, ou que o galo traga a manhã sem suspiros, sem que eu sonhe tão longe que a sensação de imobilidade não me faça desacreditar da vida.O reviver das lembranças me faz gostar do cheiro de sentimento sepultado, do cheiro de coisa morta que ainda conservo; aí não há odor, não há traços de memórias anteriores inesquecíveis. As lembranças ressuscitam em mim por que gostam de continuar vivas, disformes, gostam de tocar seus dias moribundos comigo. Somente as lembranças conhecem a minha solidão. Fazem-se presentes na medida certa para não me sufocar de saudade e não me enrijecer sem o oxigênio da minha alma que são meus sentimentos entranhados nas minhas pequenas lembranças.A imensidão de tudo o que existe me assusta. Sou um pingo em meio a todos os sinais, que dirá deste infinito que cada universo propriamente inventou. A imensidão das palavras e todas suas façanhas, os olhares mil que se dissimulam ou que sejam mares desconhecidos, as intenções que de intenção só mesmo quando se morre de fome.Pois bem, a minha intenção surda desconhece qualquer conseqüência. Não é amor não, é vício, é vontade, é o pânico de não ter a quem cotovelar durante a noite, é o orgulho pisoteado por ter que enfrentar a vida sem a mão que me afagará o cabelo quando deitar num colo para voltar a ser criança e chorar sem fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário