segunda-feira, 8 de junho de 2009

onde dorme o íntimo dos homens..

Quando pela primeira vez desconheci o que atingia os meus pés e subia vagarosamente em minhas pernas, como um animal estranho querendo adentrar qualquer orifício vulnerável, como meus ouvidos ou minha boca, não digo um invasor dimensional, angular e visível, mas um fluído, um miasma que fazia arrepiar meus pelos e pulsar minhas veias, prostrei-me. Eu o desconhecia, sim, pois seus frêmitos e sensações eram contrárias àquelas outras familiares como um suspiro ou uma gota de suor escorrendo pela nuca enrijecida.
Era algo como unhas deslizando uma camada abaixo da pele, mas não havia dor, sentia como se sente o escalpelo cortar a pele amortecida pela anestesia.
Talvez eu fosse um inseto disfarçado de humano, e estes tremores e limitações físicas fossem a fase de muda que antecederia uma nova personalidade. Mas não, eu não era um artrópode, era simplesmente humana, um ente pensante, confuso e desprotegido, e talvez esta sensação fosse um desespero guardado, hermeticamente, dentro de alguma profundeza minha que esteve sob o seu limite e precisava desmoronar para sair, emergir daqui de dentro deste pântano de depressão, que se tornou meu corpo.
O que estava frente a meus olhos, era o dilúvio de desejos, anseios, alegrias e tristezas, eu estava vibrando intensamente na freqüência das paredes do quarto e, elas penetravam suas ondas em minha fronte aberta, silenciosamente, prolongando-se por dias, acomodando-se na minha invalidez, estendendo-se a meses com picos antagônicos de sentimentos perdidos...
Foi a primeira vez que me deparei com a vida desvencilhada dos contos de fadas e bosques insones. Eu era criança velha antes de avançar à adolescência. Foi por isso que desconheci o que adentrava meu campo etéreo. Aquilo era birra de criança órfã que fugiu da cela sombria e, este vale lamacento e oculto, esteve proliferando dentro de mim.

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