sábado, 1 de agosto de 2009

depois que.

Enxugou as lágrimas, os olhos espremidos, rubros e cadentes. Ela não sabia o que dizer, já havia dito tudo, num tapete verde e uma xícara de café preto para não dormir com medo da morte.
Queria sair dali, queria ela, a outra, o seu complemento (...)
Estava sozinha, doente, estática.
-Eu a amo. Não como mais, não durmo, não sobrevivo.
-Deixa o tempo...
-Do que você está falando agora?
-Estou com outra e...
-Cale-se!
-Mas eu te amo, te quero.
-Case-se comigo, me cure, me socialize com você mesma.
-Acalme-se.
-Não há calma, não há nada, estou morrendo! –Enfatizou a morte como saída para convalescência. Queria morrer de fato, por ser gay, por não tê-la, por estar sozinha no mundo.
Havia vômito e papéis amassados ao seu redor. Rugas. Cigarros mal terminados e uma escuridão dentro e fora de si.
Queria escrever algo que fizesse para salvar suas vidas. Pensava que palavras tinham algum poder, e depois daquela poesia, nada mais lhe saiu. A arte também havia partido, com sua vida, seus cabelos e sua alusão de paz, já inexistente.
Na verdade, sabia que nada mais voltaria. Nada. Não entendia o tempo e porque havia tomado tento desse amor somente depois de pisá-lo. Por que não lhe entregou, porque aceitou, porque prometeu castelos e a deixou sem as pernas (...)

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