quarta-feira, 14 de outubro de 2009

mansamente pastam as ovelhas (incompleto)

Mansamente pastam as ovelhas... Mas as ovelhas que vejo estão perdidas; então por estarem perdidas, deixam de ser mansas? Ou não mais pastam? Se sou pastora, quede bom pasto para procriar-me a mim e às idéias? Quede tempo calmo para dar abrigo e alimento a meu rebanho.

Se sou ovelha, pastor não tenho. A ordem há muito tempo, dele, se perdeu. Quede percepção, quede minha comida, meu alento. Mansidão e encontro? Como? Sem guia, sem companhia, sem fé na porcaria de amanhã, que o pastor ausente insiste em dizer que além de ser dia, é novo (...)
Bom mesmo deve ser o tempo. Ser o tempo. Passa logo: cada vez menos de si para nós, cada vez mais de nós para si. O tempo é o bom pastor, o pastor que empurra e oprime com mãos invisíveis e tato irreal. O tempo é boa ovelha, metódica, ansiã de espírito, que sabe ser efêmera como o tempo de sua vida e não hesita em correr e correr: devoção & languidez eternos. Ser o tempo, oras. Pastar mansamente sob o cajado de si mesmo, no mato ou no chão batido, no ar fresco ou no sol férvido, faminta ou saciada.

Seria isso auto-controle, abnegação ou derrelição de si mesmo, do si matéria, do si intangível, perante o desânimo do trágico e enfadonho quo-ti-di-a-no?

Ser, apenas. Sem rumo, sem palavra, sem predestinação ou pós-loucura.

Afinal, pastor tempo e ovelhas? Mas não são as perguntas o alimento do mundo? Como se viveu até hoje, eu não soube de ninguém que comesse ou bebesse somente lançando perguntas; mas que ganharam o pão e o sim como respostas.

Devia haver respeito e sentido mútuo nas coisas. Como se além da alma própria, também possuíssemos uma consciência coletiva, subentendida nas relações que permeiam o tempo, pastor, ovelha e vice-versa.

Talvez por isso o pastor, além de ser mágico, possui mãos luminosas. Somente o pastor que compreende o tempo, pode ser mágico. Logo suas mãos são luminosas ao sabor de seu querer, e suas ovelhas, certamente seriam estrelas, ou raios, ou qualquer coisa que brilhasse, exigindo cuidado e energia no trato diário.

O tempo não é sortilégio, é aprendizado e desentendimento.
O pastor não é sábio ou sagrado, mas simples, muito sofreu.
As ovelhas não são estrelas ou luz, mas apenas testes advindos do aprendizado, resultando em simplicidade e, assim, harmonia & ponto final.

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