sábado, 17 de dezembro de 2011

Sobre o poema "Presságio", de Fernando Pessoa - A alguém.

É como se me despisse, esta poesia. Tomara que isto lhe conte o que não se ousa dizer. Quem sente muito, cala e querer dizer é despojar-se, restando só de si mesmo. Mas que lhe seja dito e entregue tudo, neste silêncio inteiro. Se pudesse ser ouviro, o olhar...
Pois que tounou-se uma Atlântida, quando imersa em amor. Ou talvez já o fosse muito tempo antes da percepção dos pobres olhos. Pobres olhos (que apenas vêem). Todo o seu infinito além, abstrato, é contradito com a simples rudeza do tato; embora seu campo seja vastíssimo, é reservado às mãos toda a percuciência íntima, oculta em tanta distancia percorrida mentalmente, a começar pelos olhos. Talvez, como é sabido, o final dos caminhos intocados seja o abismo.
Quantas coisas guardam os olhos esquivos.

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