segunda-feira, 12 de julho de 2010

carta (inacabado)



Isto seria uma confissão em trajes de carta trocada entre amigos. Tantos papéis amassados, e eu relutei muito em lhe escrever deste modo. Mas não consegui polir as palavras. Não as palavras; não é a primeira vez que lhe escrevo, mas talvez seja a primeira sabida e possivelmente lida, e fiz de uma simples carta um grande evento.


Há tanto tempo venho construindo pensamentos, sustentando esperas eternas e espaçosas, como se eu sempre soubesse. Desde que vi a primeira fotografia é como se eu sentisse, pressentisse, reconhecesse que você não seria uma pessoa, porque não me ocorreu como tal.


Você foi um sentido vindo do íntimo desconhecido, tato novo em pele antiga, uns olhos já vistos. Uma sensação completamente consciente, atiro provocado, talvez. Teu campo magnético, a tua luz, tua dor me atraíram. Atração por si, força sem nome que a sintonia nos criou somente a nós como um código, ou identificação para saber-se das velhas semelhanças esquecidas, condição para nascermos.


A explicação disso deve estar na vontade indizível de te olhar e captar algum gesto e daquilo extrair todo o contentamento não podido. Jamais escreveria qualquer coisa que delatasse o impossível em cultivar afetos como o meu por você. E hoje falamos entre amigos, sobre as coisas que não dizemos em vida por medo.


Antes não escrevi por temer a dor que poderia causar-me externar nestas palavras noturnas, as coisas bonitas que são você em mim. A luz que se acende e leva o teu nome.


Por que sei que todo este labor é presciência. Doce ilusão que a vontade aguda causa. Saiba que a consciência refratária da qual untei minha face é íntegra. Estás aqui, impermeável no vórtice que eu sou. A luz é quente e quase tem mãos perscrutadoras de si mesmas, agora se reconhecendo, estranhando-se, entregando-se. Por que eu já disse, és um sentido muito mais do que um tato e ainda assim insistes em fazer-se absoluto, além-alma, pele.


Está dito e entregue tudo.




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